Noite escura da fé


-Ler João 21,1-14-

Neste Evangelho, podemos nos permitir algumas reflexões.Primeiro, Pedro toma a decisão de ir pescar sozinho, atitude que encoraja os outros, que o acompanham. O que Jesus tinha preparado para o fim daquela noite era para todos, mas precisava que vissem o movimento de apenas um para também se movimentarem. Muitas vezes estamos desanimados, sem esperança, tantas perguntas sem resposta, tantos medos e inseguranças e precisamos nos levantar e fazer algo que realmente gere frutos. Temos que continuar a caminhada, pois a vida continua. Neste movimento, Pedro seguiu acompanhado dos outros discípulos de Jesus. Mal imaginavam que a noite seria ainda mais silenciosa do que aquele mistério todo que viviam. Uma noite sem movimento, o mar que parecia estar morto, totalmente diferente de quando Deus o criara, com tantos animais pululando as águas (Cf. Gn 1,20). Tantas vezes nossa vida está exatamente assim. Parece que nada muda, que tudo está parado e só você existindo. Tudo ao redor silencia. Inutilmente jogamos, puxamos a rede e nada pescamos. Sabemos que ali sempre pescávamos, mas especialmente nesta noite escura,parada e silenciosa aquele local está inabitado. Assim deviam se sentir os discípulos naquela longa noite. Porém, eles não tinham mais nada a perder. Ficar ali tentando era tudo que lhes restava. E, ao surgir do sol, quando a luz invadia as trevas, Jesus se mostra como um desconhecido, e oferece um conselho muito providente, dando um golpe de esperança aos tão amados discípulos, que sem questionar, lançam a rede. E eis que fazem a maior pesca de suas vidas. Parece que Jesus testara sua fé. Não mostrara-se para ver se iriam se abandonar à providência. E o discípulo amado logo o reconhece, já sabe como são as surpresas de seu Senhor. Pedro, ouvindo que o Senhor estava lá, se vestiu e se atirou ao mar. Na verdade, fiquei me perguntando por que Pedro estava nu no meio de uma pescaria e decidi pensar que ele se despojara completamente, lavara as mãos. Seu senhor não estava mais com eles como antes, e ele estava ali ainda, sem saber exatamente o que fazer e para onde ir. Decidiu se despojar de todas as suas verdades, interesses, planos e, à mera menção de que Jesus estava ali, se atirou sem pensar em nada, o mesmo que outrora afundou no mar por medo (Cf. Mt 14,30). Um ímpeto de esperança e alegria tomou conta dele, que não se conteve. Bem, cada um tem uma reação e Pedro me parece ser sincero em cada atitude que o move. Ele era o que era e não se importava com o que pensavam de suas atitudes intensas e às vezes até paradoxais. Assim nós devemos ser também. Ser quem somos diante de Deus e diante dos homens, ainda que errando muito, caindo e depois se arrependendo, se jogando nos braços do Senhor e tudo o mais que sentirmos vontade de fazer em nossa relação aberta com Deus.
Me chamou a atenção também a rede que não se rompeu mesmo com quase meia tonelada de peixes. Certamente, providência do Senhor também, para mostrar-nos que mesmo diante da fartura e abundância que poderia nos envaidecer e fazer esquecê-lo, a aliança dEle conosco não se rompe. Ele cumpre o que promete após uma longa noite silenciosa, onde nada parece acontecer. Nós é que muitas vezes nos deixamos esquecê-lo quando conquistamos o que queremos. Mas Ele manifesta sua fidelidade, que não se rompe, até o fim. E após tantas noites longas e silenciosas de nossa vida, o que Ele promete ao nascer do sol não são alguns peixinhos, mas 153 grandes peixões que mal sabemos o que fazer com eles. E Ele ainda acende o fogo, assa o próprio peixe que trouxe e acrescenta pães para mostrar que Ele poderia ter dado aquele fruto da pescaria sem seus discípulos passarem por nada daquilo, mas quis nos mostrar que devemos confiar que nas noites escuras Ele sempre está lá e que deseja que nos esforcemos para continuar a caminhada quando tudo for silêncio, na confiança de que, ao fim de tudo, Ele nos recompensará por nossas labutas e nossa espera paciente. E estará com tudo pronto para nos oferecer e convidar a saborear desta abundância com Ele. Pois tudo vem dEle e Ele deseja que com Ele comunguemos destas grandes e pequenas vitórias conquistadas por seu amor providente que sempre nos assiste.

"Precisamos nos mover do conhecido para o desconhecido, da luz do dia para a noite escura da fé." (São João da Cruz) 



Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

A Deus o que é de Deus